28 de mai. de 2018

[Sonho da Vez #1] Memórias da Lua Cheia

Memórias da Lua Cheia
(Memórias da Lua #1)
de Andressa Andrião
552 páginas
Editora Novo Século
2012
Sinopse: Ela estava sem memória e sozinha, perdida em uma floresta durante uma noite de lua cheia, em que os lobos uivavam perigosamente. A única informação que tinha sobre si mesma estava em um bilhete borrado pela chuva que dizia que seu nome era Alissa. Quando jurara que se tornaria comida de lobos, ele aparece. Um rapaz que em seu primeiro momento parece ter vontade de matá-la, mas logo em seguida resolve misteriosamente salvar sua vida e cuidar dela até que alguém apareça em sua procura. Por mais que ela tivesse expectativas, ninguém nota seu desaparecimento, levando-a a ter que morar com aquele rapaz repleto de segredos, que ela conhece na floresta. Com o tempo um romance começa a surgir entre eles, mas ainda havia um mistério: um homem enigmático e atraente que desenvolve um interesse imediato por ela. Alissa então descobre que sua perda de memória não era exatamente o que ela imaginava e que o mundo era muito mais cheio de mistérios e magia do que ela acreditava ser.

Já tem um tempo que a febre dos livros sobrenaturais existiu e mesmo hoje ainda tem histórias do gênero cativando quem gosta da temática. Eu não faço muito parte desse grupo, na verdade, se li cinco livros do gênero nesses seis anos como blogueira foi muito, porque a maioria não me atrai, mas tem suas exceções como no caso de Memórias da Lua Cheia. Primeiramente, por ser nacional, que é o que mais costumo ler, e segundo porque, de tanto ver a autora falar sobre seus personagens na fanpage oficial da série e ver o carinho com que ela os desenhava e acabar me empolgando junto no universo criado por ela, me interessei. Assim, quando ela abriu parceria no ano passado, me inscrevi e cá estou, livro lido e pronta para contar à vocês o que achei. 

Em uma noite de lua cheia, uma jovem moça desperta ao pé de uma árvore sem quaisquer lembranças de quem ela era e como fora parar ali. Tudo o que sabe, através de um mísero pedaço de papel deixado ao seu lado, é que seu nome é Alissa e que havia perdido sua memória. Ouvindo o uivo de lobos escondidos na floresta e sem saber para onde correr ou o que fazer, ela acaba dando de cara com um rapaz um tanto quanto assustador e perigoso à primeira vista e que logo mais acabará descobrindo se chamar Seth Miller. Não tendo a quem recorrer ela acaba indo parar na casa dele, que sente compaixão pela menina perdida e logo se dá início uma convivência tranquila entre os dois, com ela se dando conta de que ele é muito mais amigável e gentil do que parecera logo de cara naquela estranha noite. Com o passar do tempo, porém, Alissa descobrirá que a estranheza do outro dia nem se compara às coisas e pessoas inesperadas e imprevisíveis que surgirão em seu caminho rumo a trazer à tona o passado que, se antes ela queria descobrir, agora ela gostaria de nunca saber à respeito. 

Primeiramente eu gostaria de dizer que levei aproximadamente uns cinco meses para fazer essa leitura. Não, por favor, não é porque o livro é ruim, longe disso. Na verdade, diante do que eu esperava do enredo, até que me surpreendi bastante principalmente diante das revelações em torno de Alissa e os personagens mais próximos dela. Essa demora basicamente se deu ao fato de, desde seu início, a narrativa da história não ser das mais ágeis ou fluidas, talvez o principal motivo por eu não ter aproveitado mais a história. Em primeira pessoa, Alissa narra desde o momento em que desperta na floresta e ao longo de toda a leitura senti muitos excessos de descrições aqui e ali, por vezes até repetições de informações numa mesma página, que tornaram a narrativa bem cansativa e me fizeram pausar a leitura em vários momentos. 

Passado isso, focando no enredo em si e a forma como ele acontece, é inicialmente monótona a adaptação de Alissa na pequena cidade, para não dizer vila, onde Seth mora, mas isso é plausível pelo fato de que, estando sem memória, ela não ter muito em que pensar e conversar que não o que ela vê a sua frente e o que sente com sua situação confusa. À seguir, novos personagens começam a aparecer aos poucos na história, como Lidi, amiga e vizinha de Seth, Jarret, Scorpio, Clarisse e Christopher, tornando, com o passar dos dias, minimamente normal o dia-a-dia de nossa protagonista, cada qual com um traço de personalidade marcante e distinto dos demais, e que serão responsáveis por fazer o passado de Alissa ser relembrado de diferentes formas.

"- Eles julgam demais as pessoas - concluiu Seth, tenso.
- Acho que esse é um problema de toda a humanidade - disse o delegando, respirando fundo."

E com foco justamente nos personagens, gostaria de parabenizar à autora pelo primeiro ponto a me fazer, mesmo com a narrativa não muito fluida, insistir na leitura e não querer largá-la de fato. Andressa foi muito feliz ao criar cada personagem, mesmo os secundários, com a mesma dedicação e valor com que faz com os protagonistas. Desde Lidi, Jarret, Clarisse à Christopher, não importa como, mas suas histórias individuais vem à tona em algum momento da trama e é como se estivéssemos inseridos naquele universo, tamanha a precisão ou simplesmente convencimento com que eles são colocados ali, inclusive nos fazendo perceber que nenhum deles está ali em vão e que, afinal, cada um ou mexe diretamente com a vida de Alissa ou tem potencial para fazer ainda mais nos volumes seguintes da série. Esse é o tipo de cuidado que admiro demais num autor, porque definitivamente gosto de sentir que os personagens foram bem pensados e suas ações sempre são decisivas ou importantes, mesmo que em graus diferentes, na história.

Nos protagonistas, que ouso concluir como um trio ao menos nesse livro, várias foram minhas opiniões e reações em torno deles. A começar por Scorpio, tão enigmático logo à primeira aparição, mas que se mostra com um peso tão grande na trama e mesmo na vida de muitos dos personagens dela. Admito que não fui muito com a cara dele logo de início, talvez por seu jeito irônico de falar e agir, talvez pela simples desconfiança que fui sentindo dele com o passar das páginas, mas ao final da leitura certamente me vi curiosa para descobrir mais sobre seu passado e o quê de fato acontecia com o rapaz. Seth, por outro lado, me deu certa apreensão na primeira cena em que encontrou Alissa na floresta, mas logo isso se desfez e me apeguei ao personagem quase tanto quanto ela própria. É fato que ele tinha lá alguns momentos de instabilidade emocional que ora me irritavam, ora me faziam recuar de gostar dele, bem como quase todos na cidade que já o conheciam por seu temperamento difícil e por comprar brigas por besteira, mas para todos os efeitos, ele tem um grande coração e saber junto com Alissa sobre sua história me deixou diversas vezes com o coração na mão e abalada pelo o que ele já havia e continuava passando na vida. 

"Quando conhecemos uma pessoa, não paramos para pensar em seu passado, muito pelo contrário, assumimos uma visão delas de acordo com o seu presente, sem imaginar que haveria o que haveria por trás de seu sorriso: a sua história, suas alegrias e tristezas..."

Assim, foi inevitável acabar me apaixonando um pouco por ele como Alissa acaba fazendo também, mesmo dividida entre as aparições repentinas e enigmáticas de Scorpio e os sentimentos estranhos que ele também provoca nela. E é aí que falamos melhor sobre ela em meio à esse triângulo amoroso também. Primeiramente que demora a formarmos uma opinião sobre ela visto que ela mesma não sabe como agir ou falar em vários momentos e acaba atuando no automático nos primeiros capítulos. Com o passar deles, porém, uma coisa que infelizmente constatei sobre ela é que ela é dramática. Ou sabe ser e muito. Certo, a situação dela é confusa por si só e estar presa entre sentimentos diversos e fortes por pessoas tecnicamente desconhecidas e sem nem mesmo fazer ideia de quem ela própria é ou onde sua família está que ainda não foi procurá-la, mas em alguns momentos ela choraminga bastante, e uma vez que a narrativa é em primeira pessoa, juntamos o fator de narrativa muito detalhista + eventuais repetições + sentimentos de Alissa que então temos uma leva de pensamentos muito presente que por vezes beira um fluxo de consciência de tão focada que ela fica só para falar sobre o que ela sente, os receios que tem, o que queria poder fazer, o que não pode fazer, e por aí vai. 

É por causa disso que o romance presente no enredo não me empolgou tanto como eu esperava, porque ela simplesmente se derretia num fluxo eterno de lamúrias sobre cada rapaz, Seth e Scorpio, e voltava a repetir pensamentos o tempo todo. Foi massante ler algumas dessas páginas e mesmo irritante porque às vezes durava quase um capítulo todo numa cena ou dia só até entrar um novo, e era como se a leitura não avançasse às vezes. Foi assim que acabei me desligando um pouco do romance e parando para admirá-lo só nos poucos momentos em que ficou mais estável - e felizmente, apesar do drama de outrora, quando ele aconteceu teve seus momentos fofos e que me fez sorrir durante a leitura. Infelizmente, para Alissa, coisas mais importantes acabam surgindo em torno de seu passado e o desejo que ela tem de descobri-lo, e foi isso que logo mais me segurou na leitura, o desejo por respostas sobre quem ela era, de onde viera e tudo o mais, e, mais uma vez, felizmente, a autora acertou em cheio nesse ponto. São várias as revelações acerca de Alissa, e como são feitas de forma gradual, nada se acumula e conseguimos digerir e assimilar tudo com calma, principalmente no início que às vezes pode ser confuso, mas logo vai se mostrando a que veio de fato. 

A forma como alguns personagens secundários que aparentemente não teriam impacto nenhum na vida dela, então, se mostram na verdade como essenciais para ela descobrir mais sobre si mesma só mostra o quanto a autora desenvolveu bem esse tópico e eu fiquei boquiaberta com certas conexões que, mesmo agora após ter encerrado a leitura, continuam a me fazer matutar sobre um detalhe ou outro que ficou nas entrelinhas e que provavelmente será mais aprofundado no segundo livro da série. Assim, apesar dos pontos falhos em torno da protagonista sobre sua narração e eventuais momentos massantes da leitura, o livro continua sendo uma ótima pedida para quem gosta de tramas sobrenaturais e mesmo até de mistério - porque o tanto de coisa que ainda não ficou clara e que virá a ser revelado não é pouca, e não digo isso de forma negativa, mas sim como ponto positivo porque a autora soube dosar o que revelar nesse primeiro volume e o que era importante deixar para depois. Mesmo com a demora para lê-lo, eu gostei, e me vejo sim lendo o segundo livro daqui a um tempo porque a curiosidade permanece em torno de o que mais Alissa descobrirá e o que acontecerá com os personagens que a cercam. 

Então fica a minha dica de leitura que, mesmo com alguns pontos falhos, também tem seus pontos positivos e soube se concluir com um final tão enigmático quanto o passado de Alissa e por vezes até mais sombrio do que ela poderia já esperar mesmo após tanta descoberta. Detalhe, no caso, para o fato de a edição que li, primeira, ter sido a publicada pela Novo Século em 2012, mas que nas próximas semanas sairá como nova edição em ebook na Amazon, e com a sequência, Despertar da Lua Branca a ser lançada nesse dia 1º de Junho para quem já leu o primeiro. Não percam ;)