15 de jul. de 2018

[Sonho da Vez #3] Simplesmente o Paraíso

Simplesmente o Paraíso
Quarteto Smythe-Smith #1
de Julia Quinn
272 páginas
Editora Arqueiro
Tradução de Ana Rodrigues
2017

Sinopse: Honoria Smythe-Smith é parte do famoso quarteto musical Smythe-Smith, embora não se engane e saiba que o dito quarteto carece sequer do menor sentido musical e tem esperanças postas que esta seja a última vez que se submeta a semelhante humilhação. Esta será sua temporada e com um pouco de sorte conseguirá um marido.
Durante um jantar, põe seus olhos em Gregory Bridgerton, um dos mais jovens da família Bridgerton. Sabe que não está apaixonada, mas ele parece uma opção mais que válida.
Marcus Holroyd é o melhor amigo do irmão de Honoria, Daniel, que vive exilado na Italia. Ele prometeu olhar por ela e leva suas responsabilidades muito seriamente. Odeia Londres e durante toda a temporada, permaneceu vigilante e intermediou quando acreditava que o pretendente não era o adequado. Honoria e Marcus compartilham uma amizade, pouco atípica, fruto dos anos que se conhecem e que o torna parte da família. Entretanto, um desafortunado acidente faz que ambos repensem sua relação e encontrem a maneira de confrontar o que surge entre eles, se tiverem coragem suficiente.

Há anos eu ouço falar e leio comentários incríveis sobre os livros de Julia Quinn desde a série d'Os Bridgertons, e sempre ficava curiosa com o enredo justamente pelas ressalvas diversas sobre a maestria com que ela construía a família dos personagens e mais ainda escrevia romances de época divertidos e leves. Quase cheguei a ler o primeiro dela nessa série por volta de 2015 por causa disso, mas meu receio com o gênero, do qual não havia lido nenhum livro ainda, e eventuais cenas mais sensuais que muitos dos livros do gênero possuem me deixavam totalmente com o pé atrás - sou leitora de romances 'água com açúcar' contemporâneos, afinal. Mas foi só a série do Quarteto Smythe-Smith sair e juntamente com ela comentários que de que conseguia ser ainda mais leve e divertida, em especial esse primeiro volume, que acabei me decidindo por lê-lo. Foi ganhar o livro numa promoção e passar um ano com ele parado na estante enquanto eu tomava vergonha na cara para dar uma chance ao gênero, até que, enfim, o fiz no final de Junho. 

Primeiramente, é verdade que muitas famílias possuem tradições entre si. Algumas de festa, outras de viagens, ou às vezes apenas de uma atividade em comum. Mas os Smythe-Smiths elevaram isso a um novo e nesse caso inacreditável nível: um recital anual de música. As integrantes? Jovens solteiras da família, dentre os quais nesse volume conhecemos Honoria. Ela preferia mil vezes não ter de ser parte disso, mas a regra é clara: só o casamento dá o passe livre para cada uma delas. Assim sendo, ela bota um sorriso no rosto para agradar a mãe, que ama a tradição, e reza para que seu pretendente apareça logo. O que ela não sabe é que ele já quase apareceu quatro vezes mas foram igualmente espantados por Marcus Holroyd. Ela também não sabe que ele prometeu ao irmão mais velho dela e então melhor amigo dele, Daniel, pouco antes de ele fugir do país após um incidente com outra família anos atrás, que protegeria a moça de pretendentes inadequados. É só que ele gostaria que ela encontrasse um homem que a conhecesse bem, desde sua comida preferida até àquilo que aflige seu coração. O problema é que nenhum deles parece se encaixar nesse posto que não seja ele próprio. 

Por não ser acostumada com a ambientação de época desses romances, um dos meus maiores receios com a leitura era que a narrativa fosse muito formal do período e eu, que às vezes já passo perrengue mesmo com as mais despojadas e leves do contemporâneo, não conseguisse me envolver na leitura. Isso caiu por terra quando me vi não apenas imersa na leitura logo nos primeiros capítulos como, ainda, já rindo e me divertindo com os diálogos e atitudes do elenco principal. Foi rápido de perceber um dos motivos por Julia Quinn ser tão amada: a narrativa dela é muito gostosa, e mesmo em terceira pessoa, meu estilo menos preferido de narrativa de certa forma, eu me sentia quase dentro do pensamento de Honoria, Marcus e mesmo até os secundários, e tudo isso de forma muito natural e envolvente. Primeiro ponto positivo foi aí!

Por ter um pai ausente e uma família muito pequena, Marcus acabava deixado de lado, na companhia dos empregados e tutores que o treinaram a vida inteira para ser o atual Lorde Chatteris, então quando ele conhece o núcleo familiar dos Smythe-Smith e o clima bagunçado e divertido deles, meio que adota a família como sua também e acaba passando muitas férias ao lado de Daniel, seu melhor amigo. É em uma dessas reuniões familiares que iniciamos a leitura com um prólogo que nos apresenta o trio Marcus, Daniel e Honoria ainda bem jovens. Eles tentando sair para pescar, ela como sempre se sentindo ignorada pelos demais, por ser a caçula, e logo querendo acompanhá-los, e acaba fazendo-o, mesmo à contragosto deles. É uma cena um tanto fofa e cômica por entre as implicações dos irmãos e Marcus dividindo entre apaziguar os ânimos, para o bem da menina, ou simplesmente ficar do lado do amigo, e foi um jeito muito bacana de conhecermos os personagens e então observar o tratamento entre eles no capítulo um propriamente dito, ambos na casa dos vinte e poucos anos. 

"- Não gosto de estar no centro das atenções.
Ela inclinou a cabeça para o lado e o observou por um longo momento antes de comentar:
- Não, você não gosta. Sempre foi uma árvore.
- Perdão?
A expressão dela se tornou comovida.
- Estou me referindo àquelas terríveis pantomimas que apresentávamos na infância. Você sempre era uma árvore.
- Nunca tive que dizer nada.
- E sempre ficou parado no fundo.
Marcus se deu conta de que abrira um sorriso torto e sincero.
- Eu gostava muito de ser uma árvore.
- Você era uma boa árvore. - Honoria deu um sorriso também... lindo e radiante. - O mundo precisa de mais árvores."

Isso culminou no segundo e provavelmente terceiro motivos que me fizeram gostar da leitura. A dinâmica de tratamento entre os dois protagonistas é por vezes fofa, divertida, sensível e muito bonita, porque mesmo que eles não fossem propriamente amigos quando crianças, é real a intimidade existente entre eles que os possibilita conversar, trocar algumas farpas e mesmo fazer brincadeiras e piadas sem precisar se atentar à etiqueta, o título do rapaz ou por ela ser uma moça solteira; eles simplesmente dialogam e é tudo tão natural, que antes mesmo de torcer pelo casal, eu aproveitava ao máximo os momentos deles juntos, e amava mais ainda a forma doce e única como eles transmitiam cumplicidade e respeito. Um tanto exagerado possa estar sendo meus elogios e amor por esses diálogos, talvez? Talvez. Mas o meu eu receoso de outrora de repente só ganhou motivos para, antes mesmo de terminar esse livro, querer ler muitos mais da autora. 

E isso porque nem falamos do romance propriamente dito, mas, convenhamos, se um simples diálogo e brincadeiras trocadas entre o casal já me deixou tão apaixonada por eles, o romance não poderia ter cumprido mais com o esperado. Honoria e Marcus tem uma relação muito tranquila, divertida e fofa, mas ela revela-se como sendo algo de ainda mais valor e carinho para ambos quando Marcus se machuca por causa de Honoria e acaba ficando numa situação bem instável de saúde - digamos apenas que uma bota nunca e um facão nunca foram uma combinação mais perigosa e letal. Honoria reúne uma determinação que nem sabia que tinha, quase nem se preocupando mais com o recital que se aproxima e a expectativa de ter que participar dele de novo, e vai com a mãe para a casa de Marcus para cuidá-lo. Os capítulos de tensão e preocupação pela saúde do rapaz que se seguem acabam se provando peças chaves para que ambos percebam o que podem estar deixando passar tendo em vista a sintonia que há entre eles e a recíproca de carinho, cuidado, respeito e amor que os envolve. Isso me levou a apreciar ainda mais o romance e felizmente ver que, assim como a amizade e companheirismo que já havia ali, o romance que se seguiu foi muito natural e desenvolve-se na medida certa. Com paixão, carinho e bom humor como é tão característico deles principalmente.

Com tantos pontos positivos, desde os já citados até inclusive os personagens secundários que muito me divertiram, cumprindo seus papéis de forma sempre a se destacar de uma forma muito agradável e nada forçada, principalmente no caso das primas de Honoria que sempre me faziam rir com suas intermináveis discussões durante os "ensaios" para o recital, eu só não amei mais o livro pelo final um tanto rápido. Quando o romance se firma e algo x ocorre no meio do salão de apresentação, de repente o epílogo surge e fica por isso mesmo. Sim, isso não será o bastante para me fazer desgostar da história, muito pelo contrário, acabou virando mais é detalhe dado o meu envolvimento já enorme com tudo até ali, mas eu ainda teria gostado mais se fosse um final mais digno. Senti uma pressa incomum na leitura, coisa que não havia acontecido em momento nenhum antes, e isso me incomodou um pouco, mas o epílogo em si ainda foi bom, com o toque de bom humor típico dos protagonistas. Então, apesar desse detalhe, Simplesmente o Paraíso foi uma leitura realmente muito gostosa, envolvente e divertida como eu tanto ouvi dizer que era, definitivamente me fazendo querer ler o resto dessa série e as demais da autora.