22 de jul. de 2018

[Sonho da Vez #4] Ímã de Traste

Ímã de Traste
de Fê Friederick Jhones
265 páginas
(Publicação Independente)
2015

Sinopse: Valerie é uma mulher que acredita no amor, o seu problema é que vive escolhendo o cara errado. Seus amigos lhe deram o apelido de Ímã de Traste, só que ela ainda não sabe. Quando seu último namorado, lhe dá um pé na bunda daqueles, Valerie vai precisar repensar suas escolhas. Uma história leve e divertida sobre uma mulher na busca pelo amor, com tropeços, biquínis e tubarões pelo caminho. Junte-se a ela nessa busca e descubra se você também é um ímã de trastes.

Se tem uma coisa que gosto de fazer é garimpar ebooks na Amazon. Nessa leva, durante esses anos, já baixei muito livro que estava gratuito ou por até 1,99 que acabaram se tornando queridinhos e seus autores inclusive favoritos, em muitas das vezes. Em paralelo à isso, sempre via elogios às obras de Fê Friederick Jhones, e assim, já com algumas de suas obras presentes no meu Kindle por entre uma promoção e outra da Amazon, decidi enfim ler um livro dela esse ano. Conhecido como seu livro de maior sucesso, também o primeiro de sua carreira, Ímã de Traste foi uma leitura que eu tinha boas expectativas de gostar, dados os comentários que sempre via sobre a história e seus personagens, mas a surpresa foi ver essas expectativas serem totalmente ultrapassadas ao chegar no final do livro.

Valerie é uma mulher de 33 anos que sabe como ninguém do ditado "sorte no jogo, azar no amor". Com uma vida profissional cada vez mais em ascensão ao trabalhar numa gravadora, ela coleciona trastes em seu histórico amoroso, o que faz seu grupo de amigos composto por Rico, Mônica e Alice apelidarem-na de "imã de traste", o que só se prova terrivelmente real quando ela é dispensada por mais um namorado, Alex. Sem muita perspectiva do que fará à respeito desse título que não se livrar desse título e encontrar o amor verdadeiro, ela acaba se esbarrando em um amor em potencial - mas será esse o único que poderá ser promissor de verdade?

“Acho que aquele era meu novo poder: entristecer homens legais. Além de ímã de traste, síndrome de salvadora, eu também tinha me tornado a destruidora de corações.” 

Digamos que eu não seja muito fã de chick-lits, ou ao menos não me interesse por ele da mesma forma como me interesso por jovem adulto e fantasia. Ainda assim, isso não foi empecilho nenhum com relação à história de Valerie; na verdade, pelo teor mais descontraído do gênero somado à escrita já leve e divertida de Fê narrando em primeira pessoa pela própria Vale, a leitura se seguiu a maior parte do tempo em ritmo ágil, só não mais rápida porque eu a comecei ainda no app do celular e eu já vinha meio cansada de ler nele, até que adquiri o Kindle em Junho e pude concluir a segunda metade do livro de uma vez só.

Um dos meus pontos preferidos da leitura foi, de longe, conseguir me envolver com ela desde os primeiros capítulos. Não sei vocês, mas eu tenho demorado bastante para engatar em muitas leituras, mas nesse foi como ler dois capítulos e já me sentir próxima da Valerie. Nossa protagonista, por sinal, foi o segundo ponto positivo do livro, porque, mesmo por entre eventuais altos e baixos no quesito amoroso, ela é muito bem humorada, carismática e cativante, mesmo nos poucos momentos em que agiu como uma garota de 18 anos e não como a mulher de 33 anos que é, mas foram poucos e deu para relevar. Ela também é muito centrada na carreira quando a responsabilidade sobre algo bem decisivo é colocado em suas mãos e tem uma intuição forte sobre os negócios e música de um jeito que faz seu lugar na gravadora ser garantido, sempre com muita força e respeito que me fizeram gostar mais ainda da personagem.

“— Que bom, Mon, vocês são um casal lindo, uma família linda.
— Somos. Mas tudo isso exigiu esforço e principalmente coragem.
— Eu... Eu não sou corajosa.
— Será? Porque eu diria que ter o coração partido várias vezes e ainda acreditar no amor, é coisa de gente forte.” 

O problema é que, além de imã de trastes, Valerie também é constatada com uma espécie de "síndrome de salvadora", porque está sempre tentando "consertar" os maus hábitos dos homens com quem sai, o que sempre acaba culminando na realidade de que eles não mudam realmente e uma hora a máscara bonitinha cai e ela é dispensada. Ainda assim, é bom ver a protagonista não se deixando descer do salto nem uma vez e sabendo rejeitar devidamente o rapaz quando as coisas não são para ser e ela percebe isso. Um certo envolvimento dela nesse livro me deixou um tanto apreensiva no início, mas gostei de vê-la tratar as coisas às claras depois e mostrar o lado mais sério e maduro, mesmo que em algumas vezes apele para o lado dramático - quem nunca, né?

“— Não se preocupe com isso, pequeno. Está tudo bem.
— Os adultos adoram mentir pra gente, só que a gente sempre sabe que é mentira.” 

É nesse meio tempo de indecisões e trastes, porém, que eu fiquei boba de conhecer um dos personagens masculinos mai carismáticos, atenciosos, fofos e gentis que já vi, além de um ótimo e dedicado pediatra. Ricardo Borba, ou Rico, é melhor amigo de Valerie desde que foram apresentados anos atrás por Alice, e desde então integra o quarteto de amigos como o único homem, mas justamente a pessoa a quem Vale mais recorre quando precisa desabafar e ser ela mesma. Além dos adjetivos já citados, é verdade que ele também é bem mulherengo e nunca quis namorar sério, mas isso não o faz ser menos do que as qualidades citadas antes, e, assim, é lindo de ver os momentos dele e Vale juntos, não pelo romance que pode vir a surgir, mas pela amizade que compartilham, e a relação realmente cúmplice, sincera e respeitosa deles. Rico está sempre ali para ela, e vice-versa, e as coisas só ficam mais fofas quando os sentimentos que os envolvem começam a se tornar mais aparentes.

Mas, é claro, eu sou suspeita para falar isso porque amo possibilidades de romance que surgem de amizades, ainda mais quando, como no caso de Vale e Rico, são amizades sinceras e cuja evolução até o romance acontece de forma natural e convincente. Porém, esse não foi o único fator a me fazer suspirar e sorrir boba na leitura. Pedrinho é um personagem que entra por acaso, então como um paciente de Rico, mas que logo mais assume um papel firme no enredo e que, em parte, também será responsável por unir Vale e Rico em algo mais especial. Não quero falar muito para não dar spoilers sobre esse plot extra, mas, basicamente, é uma situação naturalmente delicada e tensa que ainda consegue nos fazer sorrir nos bons momentos e que foi responsável por me fazer chorar - como raramente tenho feito em livros. Era algo que eu já esperava antes de começar a leitura, dado comentários que li aqui e ali, mas que me emocionou e me tocou bem mais do que eu esperava que o fizesse, o que só deixou tudo ainda mais lindo.

“— [...] então vamos em frente.
— Mas está tudo tão complicado. — falei, cansado.
Um riso tomou o outro lado da linha.
— O amor sempre é, homens e mulheres adoram uma complicação.” 

Fora à isso, o livro também traz abordagens muito bacanas e bem-vindas sobre amizades em geral que são reais, e não apenas para constar no enredo. Confesso que esse por muitas vezes é um medo que tenho ao iniciar uma leitura, porque já me deparei muito com amizades que pareciam superficiais ou meramente convenientes à história, mas felizmente não foi o que encontrei em Ímã de Traste. Na verdade, esse é um dos pontos principais também na trama, porque, além do envolvimento de Rico e Vale, Mônica e Alice integram com eles o quarteto que representa o que é manter amizades na fase adulta. Juntos, com ou sem o envolvimento romântico dos protagonistas, eles mostram como é sim possível sustentar uma amizade mesmo por entre os afazeres distintos de cada um entre trabalho, família, hobbies e afins. Mônica, em especial, foi uma personagem que muito me cativou, principalmente por, por ser mãe, ser quase como a mãe do grupo também, sempre com conselhos para ajudá-los e palavras certas para dizer em momentos decisivos - e, apesar disso, ela não deixa de ser alguém com iguais inseguranças e altos e baixos, levando os outros três a também apoiarem-na e aconselhá-la da mesma forma que ela faz com eles. É um sentimento de respeito e apoio mútuo que permanece o tempo todo na trama e que faz muita diferença no enredo também.

Assim, somando tudo isso acima, não foi à toa que Ímã de Traste se tornou mais um queridinho na minha lista, e, até agora, um dos meus top-2-favoritos-do-ano-talvez-da-vida. Fê Friederick Jhones consegue inovar em um tema já clichê e ir muito além do que a sinopse promete, emocionando ao leitor e o fazendo suspirar e sorrir por entre muito bom humor e momentos lindos que dão vontade de emoldurar num quadro no centro da sala e observar o tempo todo como uma espécie de inspiração. Eu já esperava muito dessa leitura, mas ela simplesmente superou tudo e, ao final dela, eu só tive a certeza de que quero ler mais livros da autora, aguardando, mas já com quase certeza, de que vou gostar de todos eles também.