13 de ago. de 2018

[Sonho da Vez #5] S.O.S Fui Traída

S.O.S Fui Traída
de Fê Friederick Jhones
340 páginas
(Publicação Independente)
2018

Sinopse: Esse é um livro sobre traição. Magda, ou Agda, como ela se apresenta, foi traída. Mas ao contrário do que você espera ao ler esse livro, você não encontrará um drama. Apesar de Magda se entupir de coxinhas e refrigerante sabor uva, ela também se mete em inúmeras confusões. O destino faz com que ela chegue a um grupo chamado “SOS Fui traída” e lá tem de tudo. Desde uma modelo que ninguém acreditaria que foi traída até uma mulher acolhedora que passou por três casamentos. Junte-se à Magda, ou Agda, nessa aventura por doze passos divertidos e profundos, reencontrando a si mesma e rindo muito.

Foi no mês passado que publiquei minha resenha de Ímã de Traste, de Fê Friederick Jhones, e quem a leu sabe que eu não apenas gostei muito dessa primeira impressão de livro da autora como ainda o favoritei. Por isso, ao terminar a leitura ainda no mês retrasado, estava decidida a ler mais da autora e acabei me inscrevendo como parceira dela em seu mais novo lançamento, S.O.S Fui Traída, que me fez ter acesso à leitura pouco antes de sua chegada na Amazon. Eu já havia começado-o pouco após ela enviar o arquivo, mas entre mil coisas por fazer estava protelando o resto da leitura, mesmo que já soubesse que estava muito envolvida com ela. Foi numa madrugada do dia 27 para o dia 28 de Julho, porém, que sentei para ler uns dois capítulos mais antes de dormir mas fiz mesmo foi virar a madrugada para terminar essa leitura que é tão surpreendente, deliciosa, envolvente e emocionante como Ímã de Traste. 

Antes de mais nada, a premissa é simples e rápida como o arrancar de um dente (quem leu vai entender a referência, rs): Magda, mas que prefere ser chamada de Agda, está no auge de seus 38 anos, feliz e realizada como uma grande psicóloga e num casamento tranquilo e amoroso de treze anos já com Maurício, ou simplesmente M. Seria mais um dia comum na sua rotina, até que ela não apenas recebe a visita da amante de seu marido em seu consultório como, ainda, descobre que a "relação" já dura dois anos. A descoberta leva embora não apenas a rotina que ela tanto amava e era acostumada como inclusive a certeza dos rumos que ela tinha por seguir, ainda que não por muito tempo, ao deparar-se com um grupo de apoio chamado S.O.S Fui Traída, onde ela virá a descobrir que não está sozinha nessa situação e, mais ainda, irá se ver encontrando muito mais que uma forma de superar o ocorrido através dos 12 passos do grupo.

“O casamento, assim como a gangorra, exige que os dois queiram brincar, que haja equilíbrio entre a subida e a descida, pois se um dos dois sair primeiro, o outro se espatifa no chão.” 

Não, esse não é um livro de drama, apesar da temática séria, e é aí que está o bônus do livro. Indo além de um simples chick-lit, esse é um daqueles livros para se divertir, rir, chorar e refletir ao mesmo tempo durante a leitura, tamanha são as vertentes que a autora explora mas sem nunca ser maçante ou incoerente, muito pelo contrário. Através dos 12 passos do grupo de apoio S.O.S Fui Traída, Agda embarca e leva o leitor junto numa viagem de autodescoberta onde ela se verá de frente com coisas que ela nunca deu muita atenção ou que deixou passar não só nos 13 anos de casamento com Maurício, como, ainda, na vida dela em geral. Nossa protagonista é uma mulher bem resolvida e determinada, mas que lá em seu íntimo carrega cicatrizes de perdas na infância e sentimentos reclusos que, agora, mais que nunca, precisam ser reconhecidos e libertos de seu coração.

“— Nunca existirão garantias quando o assunto é amor. Toda relação é uma aposta, pode render muito ou te fazer perder tudo.”

Assim, não é muito difícil que nos peguemos nos identificando com ela e simpatizando com a mesma, porque fica claro o quão grande é o coração que ela tem, ainda que inicialmente seja um tanto fechada e distante de uma pessoa ou outra. Com os 12 passos, porém, acompanhamos seu renascer para a vida e para o eu que ela deixou no passado, sempre incentivada pela melhor amiga Larissa, e logo mais por Manu, uma amiga que faz no grupo de apoio e que acaba completando o enredo com igual carisma e companheirismo a ser mais um elemento-chave no "recomeço" de Agda.

“Pensar nele poderia me causar desconforto, afinal eu estava naquela viagem para me recuperar do final desastroso do nosso casamento, mas eu estava começando a me dar conta de que nós tínhamos uma história e seria impossível negá-la ou tentar apagá-la de quem eu era e quanto antes aceitasse isso, melhor seria para lidar com o futuro.”

Mas não, essa não é uma história qualquer sobre traição; S.O.S Fui Traída explora os lados de cada indivíduo dentro de um relacionamento e mostra que, mesmo juntos como um só no casamento, também é preciso se conhecer e se amar por conta própria, ou a relação poderá sofrer com isso mais tarde. O livro mostra que, mesmo quando o tropeço é de M, Agda também teve lá suas falhas que fizeram o romance esfriar e chegar num ápice desses. Assim, é uma história em que ao mesmo tempo que sentimos compaixão por Agda e queremos dar-lhe colo após a bomba vir à tona e bater no Maurício pelo o que ele fez, a autora logo vai deixando claro que Agda também teve seus deslizes, mas isso não nos faz amá-la menos, muito pelo contrário. A forma como ela reconhece e encara os próprios erros, tentando inclusive consertá-los, mesmo que um tanto tardiamente, só reafirma o caráter da personagem, assim como, no decorrer da leitura, acontece com cada um dos demais personagens.

“— Sei que nada justifica, mas eu queria encontrar respostas para perguntas como essas. E repensei o começo de tudo. Repensei minhas escolhas com relação ao espaço que abri para Ângela.
— E chegou a alguma conclusão?
— Fui um idiota.
— Fora isso – falei e ri.” 

Sim, o livro é chick-lit, e sim, ele também tem romance, mas esse segundo não é o foco. O ponto de autodescoberta e superação da protagonista após esse baque é o que faz a história acontecer, e é incrível como a autora conseguiu criar uma série de 12 passos que poderia muito bem ser aplicada na vida real e que acaba gerando resultados muito inesperados e positivos que Agda, embora muitas vezes não soubesse de antemão, realmente precisava nesse ponto da vida.

“— Você sabe como sempre lidei com a dor, Maurício.
— Eu sei, Agda. Você foge dela. Finge que não aconteceu e segue em frente. Você acredita que ser forte é passar por cima do que sente.”

Isso por si só me ganhou no enredo, mas fiquei ainda mais envolvida na leitura graças ao elenco cativante e inspirador de personagens. Desde aqueles que já rodeiam Agda, como Larissa, o pai, a ex-sogra que tem como uma amiga mesmo e que é um amor de pessoa, aos presentes no grupo de apoio, como Manu, e outros tantos que vamos conhecendo ao longo da leitura. Até o M, com seus eventuais deslizes - além do já anunciado no plot da trama -, consegue nos fazer não detestá-lo tanto assim porque, no fim das contas, sincero ele é e uma pessoa que reconhece os próprios erros também tem que ser considerado um pouquinho, vai.

Assim, está aqui uma das que julgo como uma das minhas melhores leituras do ano, talvez até mais do que Ímã de Traste, porque da mesma forma eu ri, chorei, emocionei, sorri, suspirei e fiquei com saudade dos personagens de imediato quando acabou. Em seu mais novo lançamento, Fê Friederick Jhones surpreende e cativa ainda mais os leitores com uma história que poderia ser a de qualquer pessoa na vida real e, ao mesmo tempo em que nos diverte, nos leva a perceber que, no fim das contas, todos somos humanos, e que seres humanos naturalmente erram, mas que da mesma forma isso não é motivo para nos acomodarmos com como as coisas estão e nos deixarmos ser vencidos pelos problemas; mais que isso, que nunca é tarde para se dar uma chance de redescobrir a si mesmo, resgatar sonhos antigos e/ou construir novos, e usar as rasteiras da vida para dar a volta por cima.