27 de jun. de 2018

[Sonho da Vez #2] Um Ano Inesquecível

Um Ano Inesquecível
de Paula Pimenta, Bruna Vieira, Babi Dewet & Thalita Rebouças
400 páginas
Editora Gutenberg
2015
SkoobAmazon
Sinopse: Dizem por aí que os melhores momentos da vida são vividos na juventude: os primeiros amores, os encontros, as festas, as viagens, as surpresas… E são sempre os instantes inesperados que transformam um dia comum em uma lembrança especial, daquelas que nunca nos deixam.
Neste livro inesquecível você irá acompanhar uma viagem de inverno, um outono decisivo, uma paixão que nasce junto com a primavera e um intenso amor de verão. Paula Pimenta, Babi Dewet, Bruna Vieira e Thalita Rebouças nos levam através das quatro estações do ano e de quatro histórias que serão lembradas por uma vida inteira.
Já tinha um tempo que eu queria ler essa antologia. Desde a divulgação do projeto que reuniria as quatro escritoras nacionais Paula Pimenta, Thalita Rebouças, Babi Dewet e Bruna Vieira, eu fiquei empolgada, principalmente pela proposta de cada uma narrar uma história em uma estação do ano diferente. Após três anos do lançamento, só tive a oportunidade de conferi-lo agora e como normalmente acontece em uma antologia, teve os contos que gostei e os que não me envolveram tanto. Conto direitinho sobre cada um e minha opinião agora!

No primeiro conto, Enquanto a Neve Cair, representando o inverno, Paula Pimenta nos apresenta à Mabel, uma garota de seus 15 anos que até então tinha as férias planejadas com as amigas para ir no sítio de uma delas e tentar fisgar o crush Igor, só que os pais da garota tiveram outra ideia e acabaram levando ela e o irmão caçula para uma semana no Chile rumo a aprender a esquiar na pousada onde eles se conheceram quando jovens. Sem poder recusar, Mabel os acompanha à contragosto, pensando que aquelas seriam as piores férias de sua vida, até que ela conhece Benjamin, ou Ben, instrutor de esqui de 17 anos, e descobre que, assim como os amores de verão, os de inverno também existem. 

Eu não lia nada da Paula há bastante tempo desde o terceiro livro de Minha Vida Fora de Série em 2015, e amei reencontrar o estilo de narrativa fluido e envolvente dela já tão conhecido por mim! Pelo tempo longe dessa escrita, as primeiras páginas eu peguei com certa demora, mas logo que me vi imersa na história, praticamente devorei pouco antes da metade até o final do conto que tem mais ou menos umas 100 páginas. Confesso que me irritei bastante com a Mabel do início até a metade do conto porque, por não ter podido escolher as férias com as amigas, ela vira uma rabugenta e ingrata que deu vontade de socar em alguns momentos, mas felizmente algumas coisas acontecem para fazê-la se tocar da oportunidade de viver algo incrível com a família que ela estava deixando passar, e a partir desse ponto eu gostei um pouco mais dela.

Já o Ben foi de longe o personagem mais cativante do conto, com seu jeito meigo e paciente de ser, inclusive para tentar ensiná-la esqui, dando início ao romance que, então, foi um ponto que me irritou levemente por ter surgido e acontecido de forma um tanto apressada, mesmo que coerente com os poucos dias em que ela e a família ficaram no Chile, o que levaram o final do conto a dar uma corridinha, mas nada que tenha me atrapalhado tanto ao me envolver na leitura. Foi uma leitura gostosa e fofa como amo encontrar de vez em quando, então valeu muito!

No segundo conto, O Som dos Sentimentos, Babi Dewet toma conta do outono para alternar entre o dia-a-dia de Ana Júlia e João Paulo; ela, estudante do ensino médio que já se prepara para cursar Direito e portanto estagia na empresa de um advogado amigo de seu pai para isso, e ele um rapaz apaixonado por música e que a enxerga como uma das coisas mais essenciais da vida e que começa a se apresentar em frente ao escritório onde ela trabalha em busca de angariar dinheiro para a caridade. Duas vivências distintas mas que acabam por colidir primeiramente por olhares trocados ao longe até enfim os primeiros contatos reais e conversas acontecerem.

Eu estava um tanto a mais empolgada por esse conto por nunca ter lido nada da Babi antes e portanto queria conhecer sua escrita, e posso dizer que, afinal, foi uma primeira impressão até bacana. Não bem uma decepção, mas ao mesmo tempo que gostei das primeiras páginas, logo fui percebendo que ela era um pouco descritiva com detalhes de ambientação e mais ainda ao pensamento dos personagens, principalmente por ser uma narrativa em terceira pessoa. Eu normalmente não tenho problema com esse tipo de narração também, mas seguindo a linha diária de acontecimentos, da metade para o final do conto a leitura ficou um bem arrastada. Justamente pelo foco se dar entre os esbarrões de Ana Júlia e João Paulo rumo ao seus afazeres de cada dia, a história seguiu monótona para mim e em certo ponto eu já não sabia mais se ainda estava envolvida aos personagens ou não.

Ela também coloca bastante referências e citações musicais ao longo da trama, coerentes pela paixão do rapaz com o tema e logo mais por ele inspirar a garota a gostar também, já que ela até então não entendia o fascínio das pessoas por isso, e são momentos bem legais, mais ainda se você conhece as canções citadas e acaba se identificando com o que os personagens pensam sobre as letras delas e tudo mais, o que infelizmente não foi meu caso. O final não foi ruim, mas continuou seguindo a imagem meio monótona de antes, então infelizmente não foi uma leitura que aproveitei tanto, mas que ainda assim não foi realmente ruim - até porque vi muita gente gostando de verdade desse conto e das referências musicais, então ele só não funcionou mesmo comigo.

No conto que representa a primavera, A Matemática das Flores, Bruna Vieira conta a história de Jasmine, uma estudante do ensino médio que está prestes a se formar, mas suas notas baixas em Matemática requerem a urgência de um professor particular na matéria para ajudá-la ou ela irá reprovar. Ela aceita à contragosto sabendo que é sua última chance, um tanto desanimada por ser justo seu professor na escola a dar as aulas, até que um imprevisto ocorre e ele a deixa sob os cuidados de Davi, estudante de Engenharia que acabará não apenas ajudando a garota a entender a matemática como também se tornando um amigo para ela, e talvez até mais...

Apesar de ter gostado do conto da Paula, o conto da Bruna foi de longe o meu preferido da antologia por motivos diversos, mas começando basicamente por: personagens cativantes desde o início! Eu consegui me identificar muito com a Jasmine em alguns momentos até, e amei a relação companheira, de confiança e animada que ela tem com os próprios pais, lembrando-me da minha com os meus também. Davi foi outra explosão de carisma desde o primeiro momento que apareceu, super solícito com as aulas de matemática e mesmo para conversas leves.

E eu cheguei a comentar inclusive nesse top 3 de casais literários de 2018 até agora que fiz no blog, mas outro ponto que amei no conto foi o modo como a Bruna desenvolveu o romance sem soar algo muito imediato mas também sem ser demorado, bem como pelo clima ainda muito natural e tranquilo entre Jasmine e Davi mesmo quando os sentimentos já estavam ali na superfície; não tinha nada de estranheza um com o outro, continuavam papeando como se se conhecessem há muito mais tempo, e tudo isso de forma muito convincente. Sem contar que, ainda, Bruna traz debates e temas muito bons e atuais no decorrer da história, bem como algumas reviravoltas aqui e ali que, me fizeram devorar o conto de uma vez só e sentir como tivesse lido um livro inteiro de tão bem construído que foi, sem detalhes a mais ou a menos. Amei mesmo!

E por fim, mas não menos importante, Amor de Carnaval, de Thalita Rebouças, encerra a antologia com o verão em alta que tem como protagonistas um trio de amigas, Inha, Kaká e Tati. O conto já começa com as meninas tagarelando e rindo sobre um pé na bunda que Kaká levou há algum tempo, sendo então uma das primeiras vezes que Inha ri e se diverte de verdade após o término do namoro com Alex um ano atrás. Tati tem o desejo pela fama, e acaba pegando carona na fama do irmão que começa a namorar uma funkeira famosa, levando ela e as amigas para um camarote em pleno carnaval. Inha vai um tanto à contragosto, como a mais tímida das três, até que numa escapulida ela se vê frente a um príncipe que faz seu coração balançar como há muito tempo nenhum outro rapaz que não fosse Alex fazia, e a recíproca parece verdadeira por parte do moço, mas a pergunta que fica no ar é: pode um amor de carnaval durar além dele?

Já tem alguns anos que li meu primeiro e único livro da Thalita, Uma Fada veio me Visitar, em 2012, e lembro de ter gostado bastante na época. Voltando a pegar em uma história sua agora, 6 anos depois, percebo, infelizmente, que a identificação e diversão de outrora já não acontece mais com a narrativa dela para mim. Mais até do que o conto da Babi, Amor de Carnaval foi o conto que menos me empolgou e no qual eu só não me arrastei na leitura porque a narrativa da Thalita em si é rápida e tem muitos diálogos, o que foi algo positivo, mas infelizmente não salvou toda a leitura para mim. Primeiro porque eu achei as protagonistas um tanto exageradas e forçadas em suas falas e ações; sim, eu sei que a autora queria um reflexo bem descontraído de jovens amigas, principalmente no clima agitado do verão, mas a partir de um certo ponto isso começou a pesar.

Em meio a isso, também não consegui sentir de fato a amizade entre as garotas; pareciam mais 'unidas pelo acaso', e também não consegui simpatizar muito com elas, mesmo a Inha, com quem mais achei que me aproximaria parecia bem desfocada em vários trechos da história, mesmo sendo teoricamente - ao meu ver, pelo menos - a protagonista principal. Fora que o tal amor de carnaval não me convenceu e pareceu instalove e teve uns momentos bem melosos que soaram mais uma vez forçados. Eu tentei abstrair isso e sentir a vibe do conto, mas não tinha jeito e eu continuava a revirar os olhos de vez em quando com falas da Kaká e da Tati. Achei tudo um tanto superficial demais mesmo para um enfoque em adolescentes, soando quase estereotipado. Enfim, infelizmente não gostei do conto, e talvez eu tenha tirado a prova que Thalita não é mais pra mim.

Então, é, eu gosto muito de antologias, mas o problema delas é que na maior parte das vezes não vamos gostar de tudo. Foi uma leitura basicamente de altos e baixos diversos, algumas surpresas incríveis como o conto da Bruna, e outras decepções como o da Thalita, mas, enfim, não deixou de ser uma leitura válida em nenhum momento, e apesar dos pesares, eu realmente devorei o livro inteiro em poucos dias, o que considero um grande bônus. Então, estando ciente da vibe de cada conto, acredito que vocês podem gostar tanto ou mais do que eu da leitura e aproveitar bem mais cada estação junto com seus autores e personagens. Leitura recomendada sim!